Inglesas, alemãs ou belgas? Conheça as principais escolas mundiais de cerveja
Há centenas de anos, países europeus seguem parâmetros próprios de produção e criaram características próprias para suas cervejas
Mestre cervejeiro Claudio Ebert detalha as características de cada país e dá dicas para harmonizar e aproveitar os estilos ideais para o verão
As cervejas especiais ganharam o paladar dos brasileiros. Das fabricantes artesanais aos rótulos clássicos de marcas internacionais, não faltam opções para os mais diversos paladares: das mais refrescantes às amargas e 'experimentais', o desafio é conhecer algumas das principais "escolas cervejeiras" do mundo e saber qual se adequa mais ao seu gosto.
Para decifrar o mundo das ales, pilsens, tripels e outras tantas variedades, conversamos com o mestre cervejeiro e empresário Claudio Ebert, que compartilha com os leitores do blog do Shopping Casa & Design uma verdadeira aula sobre as escolas cervejeiras, as características e dicas para harmonizar com os mais diversos pratos.
"A cerveja vem basicamente de três países: Alemanha, Bélgica e Inglaterra. Há centenas de centenas de anos, estas regiões seguem alguns parâmetros próprios de produção e criaram escolas diferentes", explica Claudio, proprietário da cervejaria Kairós, de Florianópolis, e que produz rótulos especiais para cada um destes estilos.
Conheça as características principais de cada país:
Escola Alemã (inclui a República Tcheca):
- â— É sem dúvida a mais cultuada mundialmente, com tradição regida pela Lei de Pureza, estabelecida há mais de 500 anos;
- â— As cervejas alemãs tem como característica a eficiência e qualidade técnica, porém com pouco espaço para criatividade;
- â— A maioria dos estilos produzidos por lá são lagers (cervejas de baixa fermentação), como Pilsen, Helles, Bock, Schwarzbier;
- â— Outra tradição alemã são as cervejas de trigo da Bavária e o consumo em grandes festas coletivas, como a Oktoberfest de Munique;
- â— A característica local é a produção de cervejas mais maltadas, ou seja, adocicadas, do que lupuladas (amargas);
- â— As marcas mais comuns são: Paulaner, Erdinger, Franziskaner, Schneider, Hofbrau e Weihenstephaner.
Escola Inglesa (inclui Escócia e Irlanda):
- â— As cervejas são tradicionalmente mais amargas e secas e são conhecidas como ale, que nada mais é do que uma bebida com alta fermentação;
- â— São mais complexas no sabor que as lagers alemãs, que tem o sabor mais arredondado. Elas também são mais amargas, mesmo nos estilos mais populares e algumas levam doses de açúcar como fonte de carboidrato;
- â— Outra característica da Escola Inglesa é que as cervejas tendem a ser menos carbonatadas, com menos gás;
- â— Os estilos mais comuns por lá são: pale ale, porter, stout, barleywine, bitter e brown ale;
- â— As marcas mais comuns aqui no Brasil são: Guinness, Murphys, Fuller’s e Newcastle.
Escola Belga
- â— Consegue se diferenciar e ter dezenas de estilos próprios num território tão pequeno, tradição que se estende também pela Holanda e norte da França;
- â— Se destaca pela criatividade e o sabor complexo;
- â— Por lá são produzidas cervejas de alta fermentação, adicionando ingredientes como semente de coentro, casca de laranja, anis e canela, entre outros;
- â— Seu teor alcoólico, em geral, é o mais elevado, muitas vezes passando dos 10%;
- â— Na Bélgica são produzidas as cervejas mais cultuadas do mundo: as trapistas, feitas nos monastérios por monges;
- â— Os estilos mais comuns belgas são: blonde ale, witbier, dark ale, golden ale, tripel, dubbel e quadruppel;
- â— Os sabores frutados das cervejas locais são marcantes por conta da levedura local, mas é também comum a utilização de frutas nas cervejas, principalmente nas lambics, cervejas de fermentação espontânea, em tanques abertos;
- â— As principais marcas locais são: Leffe, Hoegaarden, Chimay, Duvel e Delirium, entre outras.
Além destas, há também a escola norte americana:
- â— Uma das características é a inovação frente aos tradicionais estilos centenários europeus;
- â— Elas vão de um extremo ao outro, desde as lights até as mais “lupuladas” do mundo;
- â— Presença de notas florais, cítricas e tantas outras derivadas dos lúpulos americanos;
- â— Outro fenômeno americano é o das microcervejarias: no inicio da década de 1990 eram apenas 290, hoje são quase 2.000 e cada uma imprime novidades e versões aos tradicionais estilos europeus: american lager, american IPA, double porter, double IPA, pale ale, barley wines, old ales e várias outras “experiências”;
- â— As marcas mais encontradas são Budweiser, Miller e Coors, mas outras também se destacam como Brooklyn, Sierra Nevada, Samuel Adams, ...
Dicas para harmonização
Como alerta o mestre cervejeiro, a harmonização não depende da escola, mas sim do estilo da cerveja. Por isso, ele destaca um estilo de cada escola para que os leitores testem as harmonizações ideias:
"Na escola belga, temos a wit bier, uma cerveja bem leve, que combina muito bem com saladas, peixes, sushis e outras comidas leves e delicadas. Entre as alemãs, destaco a de trigo, que também combina com pratos mais leves, saladas e frutos do mar, mas também harmoniza bem com salsichas.
Das cervejas inglesas, há a red ale, mais maltada e que combina muito com carnes ensopadas, massas com molho vermelho e hamburgueres. Já a dry stout, com notas de café e chocolate, cai muito bem com sobremesas e bolos. Por fim, entre as norte-americanas, temos a IPA (que vai bem com comidas mexicanas e ajuda a realçar o sabor da pimenta) e a Cream Ale, muito delicada, boa para harmonizar com saladas e frutos do mar, entre outros pratos leves", resume.
Segundo Ebert, à esquerda, todas as escolas cervejeiras têm estilos propícios para degustar no verão
E qual a cerveja ideal para o verão?
Segundo o especialista, todas as escolas cervejeiras têm estilos que combinam com o verão. "As mais propícias são aquelas que têm menor corpo e teor alcoólico mais baixo. Também é interessante que tenham uma alta carbonatação (adição de carbono) para dar a sensação de maior refrescância", ressalta.
Alguns exemplos são: a famosa cerveja pilsen e a de trigo (weiss), da escola alemã; a tradicional pale ale, inglesa; há também as wit biers, farm houses, saisons e várias outras ácidas da escola belga. Claudio acrescenta também as american light lager, muito comuns nos EUA e que são as cervejas de massa no Brasil - embora aqui elas sejam erroneamente chamadas de pilsen.