TÃÂmpano: Cannonball Adderley e Miles Davis: a parceria que gravou alguns dos mais belos discos da história do jazz
Fundada em 1939, a Blue Note é a mais emblemática gravadora de jazz da história. E um dos melhores discos do catálogo do selo é Somethin’ Else, do saxofonista Julian “Cannonball” Adderley.
Lançado em agosto de 1958, o LP traz cinco faixas gravadas na noite de 9 de março de 1958 no Van Gelder Studio, em New Jersey. Junto a Cannonball estavam alguns dos maiores músicos que o jazz já ouviu: o trompete de Miles Davis, o piano de Hank Jones, o baixo de Sam Jones e a bateria de Art Blakey.
O que faz Somethin’ Else tão especial é a união de um repertório escolhido a dedo com performances acima de qualquer suspeita. Está no disco a minha versão preferida da “Autumn Leaves”, com quase onze minutos de lindas melodias e harmonias deslizantes. Outro standard, “Love for Sale”, ganhou uma execução cirúrgica do quinteto. A música que dá nome ao disco é um exercício de groove estonteante ditado pela interação entre o sax de Cannonball e o trompete de Miles. A malícia deliciosa de “One for Daddy-O” é reconfortante, enquanto “Dancing in the Dark” acaricia os ouvidos.
Somethin’ Else tem algumas curiosidades interessantes. O disco foi gravado durante o processo de entrada de Cannonball Adderley no sexteto de Miles Davis, e é uma das raríssimas sessões de Miles como sideman após 1955, ano em que a criatividade e a inovação que marcaram a carreira do trompetista começaram a elevá-lo, com justiça, a condição de protagonista. Ao final de “One for Daddy-O”, por exemplo, é possível ouvir Miles perguntando ao produtor Alfred Lion: “É isso que você queria, Alfred?”.
A parceria entre Cannonball e Miles evoluiria e renderia dois dos mais aclamados trabalhos de Davis: Milestones (lançado um mês depois, em setembro de 1958) e Kind of Blue, que chegou às lojas em agosto de 1959 e é considerado, de maneira unânime, como um dos principais discos da história do jazz. E aqui vale outra curiosidade: em ambos, a dupla ganhou a companhia de outro gênio, John Coltrane.
Ricardo Seelig escreve sobre música no site Collectors Room - www.collectorsroom.com.br -, que traz notícias, textos e opiniões sobre diversos estilos musicais, além de entrevistas com colecionadores de discos. Seus textos já foram publicados em revistas como Rolling Stone Brasil e poeira Zine, além de diversos sites no Brasil e no exterior.